A ROTA DIGITAL DA LOGÍSTICA

01/10/2019
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Tecnologia, tecnologia e tecnologia! Esse mantra é o que deve mover as distribuidoras de Tecnologia da Informação e Comunicações – TIC e seus parceiros logísticos para driblar as deficiências de infraestrutura no Brasil e melhorar os serviços de entrega, ao mesmo tempo em que diminuem os valores despendidos com o tema. 

Em um país de dimensões continentais e ainda carente de rodovias, ferrovias e hidrovias como o Brasil, o componente logístico é problemático e superlativo, no sentido ruim do termo. Afinal, as companhias locais gastam algo como 12% de seu faturamento com custos dessa natureza – quase o dobro da média mundial que é de 7%. Pior, em performance logística, de acordo com os dados do Banco Mundial, o Brasil ocupa apenas a 56ª posição global e, na contramão, não podemos nos orgulhar de figurar como o sexto país em roubos de cargas. 

Diante desse panorama nada favorável, discutimos os modelos mais eficientes e as soluções tecnológicas inovadoras que podem auxiliar o setor de distribuição a gerir a questão. 

A resposta não é simples, mas o ponto principal é a previsibilidade da informação. Algo que permita que o canal consiga trabalhar com dados mais confiáveis como, em quanto tempo e de que maneira uma determinada carga se locomove de um lugar para outro enquanto os pedidos são processados. Somado a isso existe uma preocupação com a otimização dos custos. 

 

Custos e terceirização
Questões como estas estão no radar da Associação Brasileira da Distribuição de Tecnologia da Informação, mas ainda não há uma atuação direta em termos de frete e logística. A ideia é que tão logo o grupo de trabalho esteja constituído, e entidade apresente opções para seus membros. “O objetivo é auxiliar na melhor gestão possível das questões logística e operacional dos negócios individuais de cada associado”, projeta Mariano Gordinho, diretor executivo da Abradisti. 

O frete tem um impacto alto no faturamento do setor. Sistemas mais eficientes e integráveis que indiquem previsibilidade com o tratamento dos dados podem trazer uma eficiência maior na comunicação da carga. Frete à parte, a grande maioria dos distribuidores usa a terceirização de serviços logísticos como parte integrante em seus negócios, até por conta da própria complexidade que é administrar armazéns e toda a gestão associada à cadeia de abastecimento.

Porém, claro, existem distribuidores de grande porte que investiram pesadamente em infraestrutura própria como forma de não ‘ficar nas mãos de terceiros’. 

Outro fator importante nesta equação é a questão tributária do Brasil. Como os distribuidores têm que ter operações em diversos estados, é muito complexo manter operação em cada uma das regiões do País, sem contar os custos, gestão de pessoas etc. 

Em síntese, a maioria acaba utilizando serviços já formatados e como os operadores logísticos oferecem a atividade para uma gama de clientes, o custo é barateado, melhora a eficiência, o controle e gestão, propiciando maior eficiência. 

 

Digitalize-se ou devoro-te!
Independentemente do tamanho do distribuidor e do modelo adotado, seja terceirizado ou não, as tecnologias de gestão, automação, roteirização (a melhor rota dos fretes) e digitalização conseguem otimizar o processo logístico. 

O processo de automação cresce cada vez mais e bots podem ser usados no setor de logística para melhorar a experiência do cliente. “A tecnologia aliada às pessoas aperfeiçoa o atendimento ao consumidor”, argumenta Jaqueline Amaral Fraga, especialista da área de distribuição e logística da Rede Cigam, fornecedora de software de gestão empresarial com especialização no tema. 

O caminho da tecnologia é irreversível, mas como as próprias empresas de logística estão se movendo no sentido da transformação digital? O processo de digitalização ainda está desacelerado. Apenas 9% do mercado de transporte de cargas no Brasil é online e isso representa caminhoneiros ociosos, em média, 60% do tempo no terceiro maior mercado de logística do mundo. “Mas apostamos nossas fichas na tecnologia como forma de obter mais eficiência e eliminar todos os gargalos da logística do País”, assegura Federico Vega, CEO da startup de transportes Cargo X. 

Mesmo com esse atraso apontado pelo executivo da Cargo X, a especialista da Cigam assegura que as empresas de logística têm buscado soluções que tragam maior eficiência das operações internas para movimentação de itens, como parte integrante do que o mercado chama de intralogística – que é a movimentação de materiais dentro de armazéns, unidades fabris e centros de distribuição –, e ainda em atividades como armazenamento e manipulação de produtos, sejam para abastecimento interno, ou ainda, atendimento a separação de pedidos. “Isto está extremamente ligado à busca por otimização de processos e a consequente melhora dos resultados”, conclui. 

 

Pontos de atenção
Os distribuidores precisam ficar atentos e exigir que seus parceiros de logística atendam às melhores práticas de automação e digitalização, até como forma de diminuição dos custos e garantia de uma maior eficiência. Especialmente porque as empresas de logística e os canais de TIC estão (ou deveriam estar) umbilicalmente conectados, inclusive por meios digitais e sistematizados. 

O controle do trânsito de cargas por meio da chamada roteirização, que implica em uma melhor definição de rotas e o consequente monitoramento dos meios de transporte seja rodoviário, marítimo, aéreo ou fluvial, e das cargas, é algo ainda mais sensível quando falamos em TIC. “Produtos relacionados à Tecnologia da Informação e Comunicação estão entre os mais visados para roubo de cargas, dado ao alto valor, por isso, exigem maior preparo no transporte”, aponta Vega. 

E qual o futuro da prática e da conexão entre o operador logístico e o distribuidor de TIC? O CEO da Cargo X aponta que no médio prazo, a transformação digital deve ser cada vez mais adotada pelas duas pontas do setor, com novas plataformas de gestão, digitalização dos sistemas de comunicação e até mesmo com o uso de caminhões tecnológicos – capazes de operar de maneira cada vez mais autônoma. Algo que ganha eco no representante dos distribuidores.

Afinal, a eficiência do operador logístico tem impacto imediato nos negócios, no qual um é percebido como o outro. “O cliente quando compra um item de um distribuidor de tecnologia, compra a entrega, a assiduidade e a pontualidade. 

As empresas de logística e as do canal de TIC dependem umas das outras para que possam obter bons resultados nos negócios. A tendência é que eles estejam mais conectados por sistemas, aplicativos, soluções de telecomunicação mais eficientes e até, futuramente, inteligência artificial”, completa Gordinho. 

 

A Uber das cargas pesadas
Startup criada em 2013 e chamada de Uber dos caminhões, a Cargo X, como o seu CEO a define é “um marketplace com soluções de tecnologia e capital de giro desenvolvidas para transportadoras e pequenos empreendedores frotistas”. Atualmente, a empresa conta com cerca de 350 profissionais e cresce à taxa de 20% ao mês. 

“Queremos reescrever a cultura logística e vamos nos tornar o próximo unicórnio brasileiro em 2019″, projeta Federico Vega. O modelo da empresa acompanha ainda o que o mercado chama de logtech, neologismo que soma as palavras logística e tecnologia, carregando a ideia da tecnologia no seu DNA. 

Entre as inovações, a empresa já utiliza machine learning, inteligência artificial e Big Data. 

 

Enquanto isso, na China
Todo mundo conhece a Amazon e sua imensa capacidade de entregar milhões de produtos por dia, mas o futuro da inovação no setor logístico está do outro lado do mundo: na China. 

No ano passado, o boom de entregas naquele país oriental atingiu a marca de 50 bilhões de pacotes despachados e a projeção é ultrapassar os 70 bilhões neste ano. 

Esses números absurdos fizeram com que o setor logístico tivesse uma demanda explosiva por armazéns, e como forma de ganhar em atendimento e tempo, é preciso que estejam automatizados ao extremo. 

Para se ter uma ideia, o custo logístico chinês está na casa dos 14,6% do PIB, bem distantes dos 7,7% dos Estados Unidos. Um dos projetos mais ambiciosos é do armazém Yuhua, em Nanquim, que atende a Suning, a maior rede de varejo do País. 

No Yuhua, sistemas avançados de inteligência artificial e automatização com um exército de robôs de última geração são gerenciados por apenas 400 pessoas em um site gigante de 200 mil metros quadrados, que administra 480 mil produtos por hora.

Ou seja, tem a capacidade de operar 345,6 milhões de produtos ao mês ou 4,1 bilhões por ano (se trabalhando em 24 horas por dia). Números que serão turbinados com a entrada da rede 5G. E a empresa já tem um próximo passo definido: utilizar uma frota de veículos autônomos, os drones, para as entregas de pequeno porte e distância.

 

 

 

A escolha do modal
A malha rodoviária ainda é mandatória no transporte de carga no Brasil! Sem dúvida, o modal mais utilizado e frequente é o rodoviário e efetuado por caminhões.

É preciso escolher o melhor modal de transporte para o mercado interno. Para tanto, é preciso avaliar os trâmites específicos de cada operação e observar critérios como o peso e o tamanho da carga; o prazo; tipo de produto; o local específico da entrega sem esquecer da segurança do trajeto. 

Claro, os produtos importados acabam chegando ao País por transporte marítimo, via aérea, ou na combinação dos dois. No entanto, em termos internos, o transporte pelas estradas é disparadamente o mais utilizado. Embora exista também a combinação intermodal, com uma mistura de transporte marítimo, aéreo e rodoviário. 

Enquanto em outros países da Europa e da América do Norte, as ferrovias e mesmo as hidrovias têm seu papel e relevância, eles são quase que marginais em nosso país. O que fez, por exemplo, com que a greve dos caminhoneiros de 2018 tivesse um alcance e uma repercussão incrivelmente negativos em toda a economia. 

“O impacto foi monstruoso. Chegamos a ficar semanas parados. Muitas coisas foram reprogramadas e muitos clientes entenderam a gravidade do momento, então foi possível minimizar o impacto”, aponta Mariano Gordinho, da Abradisti.

 

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